Estávamos no início de fevereiro de 2016, perto das 19h e eu enfrentava o trânsito de Lisboa, para concretizar o trajeto entre Cabo Ruivo e a Avenida António Augusto de Aguiar, nº 24, sem me atrasar.
A meio caminho ainda recebi uma chamada que me questionou se podíamos adiar porque tinha havido uma confusão nas datas e horários. Já era a segunda vez. Por trás ouvi uma voz que dizia: “A culpa é do Pedro! Só faz m****”. Ri-me e disse que não havia problema, mas, numa reviravolta veloz, tudo se mantinha até porque “isto é rápido”. Uma expressão que, ainda eu mal sabia, se tornou recorrente nos últimos dois anos.
O “tal” Pedro do telefone, é meu amigo. Há já largos anos. Estudámos juntos, na mesma faculdade, no mesmo curso. Partilhamos o mesmo grupo de amigos e o mesmo sentimento de confiança. Há quase dois anos, também partilhamos o mesmo local de trabalho, as mesmas inquietações e também as mesmas satisfações.
É que, aquele dia de fevereiro era o dia da minha entrevista de trabalho na uppOut. O meu nome foi sugerido pelo Pedro ao Ricardo quando se conseguiu a primeira avença da agência.
Era um projeto de conteúdos e eu era, naquela altura, jornalista. Poderia fazer sentido. Poderia resultar. Eu queria bastante que resultasse, mesmo sem ter os contornos da “proposta de trabalho” delineados, sentia que esta seria uma boa oportunidade para mim.
Então, para não a perder, fui aprumadinha – talvez até com perfume a mais, pelo menos ao ponto de o Ricardo ter reparado que tinha posto de propósito – cheguei a horas, de currículo na mão e nervos à flor da pele. Entrei na pequena sala onde nasceu a uppOut e sentei-me, pronta para iniciar um discurso bem ensaiado em que contasse o meu percurso, porque queria mudar de área, porquê da escolha daquela empresa, as minhas qualidades e defeitos. E não poderia ter-me preparado pior!
O Ricardo sentou-se na ponta de uma mesa à minha frente, contou-me a ainda curta história da uppOut e os objetivos de mexer e conquistar o mercado de forma diferente. Entre frases pautadas por “papalapapa” – termo muito usado pelo Ricardo que, na altura, desconhecia e me dava uma tremenda vontade de rir – atirou-me a pergunta que, até hoje, mais me marcou de todas as entrevistas de trabalho a que fui: “então e sabes fazer tudo?”.
Era isto. Não houve questões sobre percurso académico ou perfil de trabalhador. De forma crua e pura, fui confrontada com o dilema de saber ou não fazer tudo. Claro que respondi um medroso sim, de forma a não colocar a minha hipótese de emprego em risco e passado pouco tempo, fui embora. Com o mesmo currículo na mão que de nada me serviu, ainda mais nervosa, mas fascinada com o pequeno mundo que acabava de conhecer.
O ponto a que quero chegar é que, aquela questão que poderia parecer tão descabida, exagerada e até despropositada ou sem utilidade porque “ninguém sabe fazer tudo”, era, na verdade, a mais certeira de todas. Algo que percebi logo no primeiro dia de trabalho. E, atenção, isto não vai no sentido de “todos temos de saber tudo”. Aliás, não poderia estar mais longe desta ideia! O que realmente o Ricardo pretendia saber – e todos os dias o faz – é se eu teria a capacidade de agarrar qualquer desafio, de entrar numa empresa ainda tão embrionária, de ir à luta, de estudar mais e mais, todos os dias, de pensar diferente, de pensar mais, de pensar muito. Se eu conseguiria entregar-me a esta empresa com o objetivo de participar ativamente no seu crescimento. Porque só assim pode resultar.
Claro que isto é difícil. É muito difícil. Ainda hoje me parece que não fui nem sou suficiente. Que não sei fazer tudo. Mas, uma coisa é certa, já sei fazer muito mais do que alguma vez soube.
A uppOut cresceu e eu cresci com ela. Como duas irmãs, nem sempre nos damos bem, às vezes andamos às turras, mas no final o que sobressai é o amor e a incondicional dedicação para que se consiga o melhor do mundo (possível, pelo menos).
Então, o que aprendi é que não tenho de saber fazer tudo à primeira e sem errar, mas tenho de querer aprender a fazer de tudo, sem medo de errar, assumindo esses mesmos erros e encontrando uma solução.
De corpo e alma: num projeto e numa empresa
O Europeu 2016 aproximava-se a passos largos e, na uppOut, tínhamos tido uma daquelas ideias com imenso potencial e que acreditávamos que se tornaria viral.
Apesar de defendermos o conceito nesse sentido, as marcas não pareciam confiar tanto nele como nós. Ainda assim, com muito esforço e já quase “em cima” do grande acontecimento, conseguimos um parceiro para levar adiante aquela que foi uma das maiores aventuras da uppOut.
Bem, passando alguns pormenores para não vos maçar e irmos ao essencial. O conceito que havíamos idealizado chamava-se “Dá a Cara por Portugal” e era muito simples: todos os portugueses eram convidados a fazer um pequeno registo numa landingpage própria e, automaticamente, a sua fotografia de perfil da rede social Facebook ficava associada a uma bandeira que, esperávamos, seria gigante. O objetivo era reunir 250 mil caras na bandeira e, se isso acontecesse, iríamos materializa-la e levá-la até frança, ao centro de estágios da nossa Seleção, para que vissem e sentissem o apoio de uma nação.
Quando finalmente foi adjudicada a parceria para esta ação, tornando-a possível, percebemos que sejam os 250 mil registos, seja a viagem até Marcoussis, em França, seja o processo de impressão e colocação de uma bandeira que se queria enorme, teria de acontecer num espaço de aproximadamente 15 dias.
Tendo estes fatores em conta e assumindo que existia por trás de tudo isto – devido à falta de tempo essencialmente – um grande risco, o Ricardo considerou que estava na altura de eu, chegada há três meses, tomar uma grande decisão na empresa. Disse-me, de forma curta e grossa: “Laura, tu é que decides. Até às 18h (dali a 20 minutos) diz-me se avançamos, se fazemos isto ou não”. Vendo a minha cara de pânico, reforçou: “Ouve, pensa e é só dizeres sim ou não. Tu é que sabes. Se disseres que sim, vamos ter de dar mesmo tudo”.
Volvidos os 20 minutos, a minha resposta foi… Sim.
Posto isto, foi pôr mãos à obra. Comunicar exaustivamente a iniciativa, através de livestreams na página de Facebook que criámos, newsletters e divulgação em meios. Não juntámos 250 mil caras, mas juntámos quase 53 mil. Face a este feito, não podíamos parar a meio e mais uma vez a decisão foi sim. Sim, viajámos até França de carro, com uma bandeira feita de rostos portugueses na bagageira que, além do apoio que queriam demonstrar aos nossos jogadores, também passaram a apoiar a toda a equipa envolvida no projeto. Depois de uma longa viagem, conseguimos. A bandeira esteve em Marcoussis e voltou para Portugal um mês depois para estar no Palácio de Belém, no momento de condecoração da Seleção.
A verdade é que, mesmo com todas as adversidades que enfrentámos (e foram mesmo muitas!), concretizar esta iniciativa valeu a pena em todos os sentidos. Foi um risco que conseguimos minimizar, mostrou-me que a persistência, a resiliência, o esforço, a proatividade, a atitude e a capacidade de não desistir são ingredientes fundamentais para o sucesso. Muito além da teoria, das hard skills e competências técnicas, concretizar as ideias sem baixar os braços é, de facto, difícil, mas é, também, o fator diferenciador.
Depois desse mês, não só dei a cara por Portugal que se sagrou campeão da Europa, como dei definitivamente o corpo e alma pela uppOut que, sem presunção e, claro, em opinião própria, é a campeã das startups.